sábado, 10 de outubro de 2009


VIAGEM ÁS RAIZES DOS CLUBES PORTUENSES"
in A Bola 26/06/09, Germano AlmeidaDe onde vem esta enorme propensão da cidade do Porto para criar clubes? Em cada zona da cidade, em cada bairro, quase em cada esquina, há uma colectividade desportiva, um emblema, um grupo recreativo, uma associação.
Germano Silva, jornalista, escritor, amante do Porto, tem vários títulos publicados sobre a história da Invicta.
O lado bairrista das gentes do Porto é, para Germano Silva, a chave para se perceber este fenómeno: «No Porto houve sempre uma ligação muito ao lugar de origem, à nossa rua, ao nosso bairro. Os portuenses têm orgulho no lugar onde moram e gostam de torná-lo visível», aponta, em conversa com A BOLA.
A organização urbana que marcou o crescimento da cidade ajuda a explicar esta enorme multiplicação: «No Porto sempre houve muitas ilhas, pequenos bairros, onde todos se conhecem. Vivi muitos anos numa ilha, sei do que estou a falar. Raro era o dia em que não havia barulho, uma discussão entre vizinhos, mas quando uma família tinha uma dificuldade séria, um problema grave, todos ajudavam. Ora, é este espírito solidário e popular que se transporta para a criação de pequenos clubes de bairro, que se espalham um pouco por toda a cidade».
SOLTEIROS E CASADOS
A componente desportiva é uma escolha natural de uma cidade que foi sempre muito virada para o futebol e tantas outras modalidades. Mas houve outras formas de exteriorização dessa veia associativa: «Foram-se formando grupos de teatro e conjuntos de excursionistas, que se juntavam e visitavam três ou quatro cidades, até onde o dinheiro chegasse...»
O grande momento colectivo é a noite de São João, uma «impressionante demonstração de afectividade e espontaneidade», aponta Germano Silva.
«Nas rusgas sanjoaninas, com sede nas Fontainhas, a Meca do São João, revelam-se também muitas colectividades, com forte cariz recreativo e algumas delas, também, desportivo», refere este amante da história do Porto. «Alguns desses grupos tinham nomes muito curiosos: recordo-me, por exemplo, de 'Os Tripeirinhos do Bem', 'Nós vamos, elas ficam', 'Os bairristas do Palácio'...»
Os jogos de amadores, entre «solteiros e casados», entre «colegas de ofício», entre «vizinhos», marcaram gerações no município tripeiro e são, para Germano Silva, «a expressão mais genuína da vocação desportiva da cidade do Porto».
NUMA ERA PRÉ-TELEVISÃO
Germano Silva recorda clu-bes como «o Progresso, o Ramaldense, o Cruz, o Francos, tantos outros... Quem for ver o campo do Cruz, por exemplo, terá uma surpresa, pois ele está exactamente como era há 50 anos. De alguma forma, até parece que o tempo parou...» E revela: «Eu próprio joguei à bola, nos juniores do Boavista. Era guarda-redes, mas trabalhava ao mesmo tempo e não pude fazer carreira».
O lado «humilde», «trabalhador» e «operário» das gentes do Porto marcou a vivência de uma cidade durante décadas e décadas. E moldou-lhe a identidade: «Pelos anos 30, em bairros como aquele em que eu morei, havia só um rádio. Mesmo quando apareceu a televisão, durante anos e anos não havia dinheiro para comprar um televisor. O desporto era um dos principais passatempos. Eram outros tempos, havia rivalidades, mas também uma grande generosidade e solidariedade. Era um futebol verdadeiramente popular...», comenta o escritor.
TENDÊNCIA DECRESCENTE
Em meados da década de 90, o município do Porto chegou a ter 668 clubes ou agremiações desportivas, valor ao qual se poderiam ainda juntar perto de duas centenas de associações de carácter recreativo. Na última década e meia, esse valor tem vindo a reduzir-se, naquilo que aparenta ser um reflexo da clara quebra de poder económico da região do Porto.
Com menos apoios por parte dos poderes públicos (nacionais e locais) e uma menor margem para arriscar a nível da iniciativa privada, os últimos anos têm apontado uma indesmentível tendência decrescente da pujança desportiva do Porto.
Os casos de Boavista e Salgueiros são os exemplos mais visíveis do problema, embora a tentativa de recuperação já iniciada pelo Salgueiros e a inscrição dos axadrezados na II Divisão mostrem, também, que há uma base popular importante para se acreditar que este não é um caminho sem retorno."
TEXTO COPIADO de scsalgueiros08.blogspot.com
Autor:
camapaco a 29 Setembro 2009 - 11:26 mau artigo
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